sábado, 6 de outubro de 2007

A Arrogância Caiu

Nestes tempos de proximidade do fim, a arrogância tem ganho espaço nas elites administrativas do evangelho. Muito se pronuncia “eu posso, eu faço, eu quebro e eu reconstruo, no nome de Jesus eu faço qualquer coisa” e por aí vai. Junto com está arrogância está o interesse próprio de ser maior que todos, em todos mandar, a todos subjugar, manipular: ser dono.
Vi um senhor detentor deste estilo de ministro de evangelho, que na realidade não é evangelho, despencar do seu trono de glória. Venho insistindo há tempo que isto não é Evangelho.
O seu “trono” estava envolto pela névoa da intransparência, do amor próprio, o qual mina qualquer tentativa íntima do ser de manifestar a verdade que Deus quer que manifestemos como cristãos que dizemos ser. O seu trono estava ainda rodeado de um séqüito de seres donos do interesse mais que próprio, o interesse de se apropriar do que não lhes era próprio, da vontade de mandar, de ter título, e aparecer.
Não se conseguia distinguir, dentre tantos deste séquito, qual o menos interesseiro do mais interesseiro.
Ah, quanta leveza de alma, leveza não no sentido de liberdade no Espírito daquEle que nos salvou, mas leveza pelo vazio de substância do Verbo, que é a Palavra, o Caminho, a Verdade e a Vida.
A queda veio. É o que esse evangelho falso de prosperidade, que faz com que pessoas estufem o peito e se achem donas de tudo e de todos tem produzido. Quantos mais não cairão que se acham semi-deuses em nome de Jesus, porque pensam que basta ir decretando, determinando e as coisas acontecerão, nada e ninguém os tocará.
Caíram no golpe da mensagem de frustração que pregavam e que sabiam não ser verdadeira, mas que insistiam em pregar porque lhes dava lucro.
Eu nunca vi nada nas pregações deles, era algo que me aborrecia, sobre as quais cheguei a dizer, em uma ministração, que, às vezes, para mim, mais valia ficar em casa sentado no sofá do que participar de certos cultos por eles promovidos. Eram pregadores de “isto é teu, aquilo é teu , Deus te dá isso, Deus te dá aquilo”, e o que transforma a vida, faz pessoas honestas, sinceras, desejosas de verdade, pouco se ouvia.
De um dia para o outro se foram com a torrente do lamaçal que criaram com suas palavras persuasivas para iludir gente sem estrutura de Jesus na vida.

Disso tudo nos fica a lição:
Precisamos conhecer a quem dizemos que servimos, Jesus Cristo, para não nos confundirmos com aparência, tamanho, pose, lábia, promessas, (pena que muitos – até os ditos obreiro - andam mais atrás de promessas do que dAquele a quem dizem que servem).
Disso tudo ainda nos fica a lição:
Evangelho não somente se vive, se prega, mas também se discerne, pois vivemos o tempo dos múltiplos evangelhos, de aparências pomposas que a muitos enganam.
Disso tudo, mais uma vez, nos fica ainda a lição:

Vivemos os tempos trabalhosos sobre os quais Paulo advertiu Timóteo:

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,
pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.

(2 Timóteo 3.1-5)

A arrogância sempre perder e leva os seus amantes consigo.

Vamos pensar nisto.

sábado, 14 de julho de 2007

A Mensagem de O Segredo já se manifesta nas pregações


Você é um ser visual, você precisa visualizar o que você quer, deletar a imagem negativa disso ou daquilo. O que você quer? Quer dinheiro, casa, carro, um bom emprego? Você tem de visualizar isso. Criar um quadro em sua mente do que você deseja. Deus queria que Abraão visualizasse a grande nação que dele sairia; somente alcançou as promessas depois que entendeu isso.
Mais ou menos foi essa a mensagem que ouvi e vi hoje na TV(sábado 14/07/07). Isso é evangelho?
Qualquer semelhança com o livro ou o filme O Segredo é mera coincidência.
É muita pobreza espiritual tentar coadunar a mensagem de Cristo com especulações positivistas.
É escandaloso ver como estes pregadores de “um outro evangelho”, que não o da Bíblia, que tomaram conta de horários na TV, onde se poderia pregar o evangelho libertador, buscam e usam invencionices, que Jesus jamais pretendeu ensinar, para atrair incautos e desesperados por soluções imediatas para as suas vidas.
São os pregadores do evangelho-marketing onde o que mais importa é o número (tanto de pessoas como de reais que consigam agregar). Se visualizar e visualizar fosse a resposta, os adeptos dessas filosofias estariam todos ricos. Ricos têm ficado os proponentes dessas doutrinas. O pior que isso está pelo país todo. E como enche igreja. Atropela tudo, até a verdade (claro que no final ela prevalecerá), em favor de resultados.
Arrumaram mais uma coisa para os fiéis se estressarem: a produção de imagem: ah, tenho que visualizar isso ou aquilo, não posso ter essa ou aquela imagem, ou não vou alcançar meus objetivos (que normalmente são materiais).
Eu já esperava ouvir este tipo de mensagem da boca de pregadores após a publicação de O Segredo. Não demorou muito. A semelhança é escabrosa. É o espírito de Cristo que os está inspirando a tal? Não entendo desta forma. Penso que é o do interesse próprio, o da auto-elevação (não da simplicidade de Cristo), o da avareza, o da projeção pessoal...
Onde nós vamos parar?
A cada dia é uma coisa nova, uma invencionice nova. Essa dinâmica de novidades é que vem alimentando esse evangelho de prosperidade e fazendo com que permaneça a todo vapor há vários anos, apesar de já haver uma horda de frustrados pela falta de resultados concretos nas suas vidas, e por perceberem que os resultados estão, sim, presentes é na vida dos defensores dessas novidades.
Pelo tempo que se prega isso no Brasil, era para os crestes serem os mais ricos e os mais influentes da sociedade. Isso não acontece porque NÃO FOI ESSA A MENSAGEM QUE JESUS PREGOU!



José Carlos Martins

domingo, 24 de junho de 2007

Física Quântica e Os Pregadores da Prosperidade

A física quântica (mecânica quântica) está na boca de muitos espiritualistas, esotéricos e está chegando aos meios evangélicos para explicar milagres e como alcançá-los.

Mas de que trata a física quântica?

Almir O. Caldeira, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp, a define com sendo “a teoria que descreve o comportamento da matéria na escala do ‘muito pequeno’, ou seja, é a física dos componentes da matéria; átomos, moléculas, e núcleos ...”
Ele, ainda, explica que sem o conhecimento da física quântica não teríamos o CD, controle remoto, forno de microondas, ressonância magnética, microcomputador, todos os aparelhos high-tech http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm .
Ainda, para Osvaldo Pessoa Jr. (Professor Doutor do Depto. de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), a física quântica “descreve os objetos microscópicos, como átomos, e sua interação com a radiação (luz, etc.)”.
Portanto, ela trata das partículas microscópicas, subatômicas, as quais formam, compõem a matéria e por conseqüência também são matéria.
Os físicos quânticos, através de vários experimentos, têm provado que a luz, que é energia, apesar de não-palpável, também é substância, matéria. Por exemplo, a materialidade da luz pode ser sentida na pele, dependendo do tipo de luz, pelo calor.
A luz, segundo a física quântica, é formada de quanta, quantidades específicas mensuráveis de partículas (feixes de matéria) que liberam energia. Não somente a luz, mas tudo o que vemos e não vemos a olho nu na natureza é composto destes feixes de mini-partículas energéticas.

Qual é a relação disso com espiritualidade?
A resposta é que estão usando as teorias da física quântica para tentar explicar qualquer fenômeno, inclusive os espirituais (ou supostos espirituais). As palavras de Almir Caldeira nos remetem a essa tendência - http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm :

“[...]tudo indica que a mecânica quântica seja a teoria correta para descrever os fenômenos físicos em qualquer escala de energia”.

Também, agregue-se a isso o fato de alguns físicos quânticos, além de serem físicos, serem espiritualistas e, daí, acabarem ligando uma coisa com a outra e teorizando sobre espiritualidade, através da física quântica.

Eu diria que o uso não científico da física quântica começa neste ponto, porque a partir daí entra, tão somente, a meu ver, especulação.
Muitos desses especuladores propõem que os elementos daquilo que desejamos e queremos estão no universo e pelo nosso pensamento (que para alguns também são matéria, uma vez que suas manifestações podem ser observadas em aparelhos) podemos fazer com que eles se reúnam, trazendo à materialidade o desejado. Esse argumento dos positivistas do presente é fortemente difundido no livro e filme O Segredo (comentado em posts anteriores).
Nesse embalo, tambéme estão entrando evangélicos , os da teologia da prosperidade, os quais estão vindo com o discurso de que podemos trazer à existência o que pensarmos (não pelo mero fato da conseqüência; de que tudo o que fazemos acaba resultando em algo).
A teologia da prosperidade, em sua inovação, está se utilizando de argumentos da física quântica para tentar validar suas falas e práticas, isto é, está passando e vendendo a idéia de que somos donos do milagre e que ele depende somente de nós; nós é que vamos atrair os elementos de matéria energética e trazer à existência o que queremos.
Há pregadores de prosperidade defendendo que a menor partícula da matéria seria o som. Portanto, para esses pregadores as palavras do querer, da fé, têm o poder de materializar o que queremos, uma vez que Deus criou o mundo e tudo o que nele há através do som, da expressão haja. Tal teorização, aliada ao entendimento de que o evangelho a ser pregado é o evangelho do reino e não somente o da salvação, é uma das estratégias para convencer neófitos e obreiros ávidos por novidades.
Para os pregadores da prosperidade, evangelho do reino é o que traz a dimensão do céu à terra, visto que no céu doença alguma, pobreza, falta disso ou daquilo subsistiria por tempo algum.
Este evangelho que enfatiza declarações que tragam à existência o que queremos, vem buscando, na física quântica, novos elementos para se fortalecer (uma das estratégias da teologia da prosperidade, a qual continua atraindo simpatizantes por muitos anos, é a constante inovação, o que não significa fundamento bíblico).
Físicos quânticos sinceros discordam que se fique especulando sobre coisas espirituais através da ciência que estudam, e vêem nisso tudo, apenas, tentativas de dar a teorias espirituais rótulo de algo científico, credibilidade.
O escritor Marcelo Druyan, que discute a ciência e falsa ciência, pensa o seguinte sobre o uso da física quântica para validar teorias espiritualistas:

Pseudociências têm o dom de se apropriarem dos jargões da Ciência para fazer filosofia da pior espécie. Além de arrombarem a porta das teorias científica válidas; dão-se ao luxo de um promíscuo casamento com a Religião e o Misticismo. De tudo, retiram definições e conceitos de seu contexto original para aleijá-los em outros contextos, onde teorias procuram provar uma premissa e, não, explicar uma experiência.
O Misticismo Quântico não é uma moda. Ele veio para ficar, ele já está! No Misticismo Quântico, orações chegam aos céus porque se valem do princípio da não-localidade. Telepatia e clarividência, idem. Demônios são a manifestação do mal que habita um universo holográfico. Santos olham por todos, porque "tudo está em tudo". E Deus, finalmente, pode jogar seus dados em paz, escondido no horizonte de eventos de um grande Buraco Negro.
http://www.ceticismoaberto.com/ceticismo/misticismo_quantico.htm

Qual conselho nos dá Palavra de Deus?

Pedro, em sua segunda carta (2 Pedro 1:16), nos aconselha a sermos cautelosos quanto a invencionices estrategicamente organizadas, as quais ele chama de fábulas:
Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, [...]

Evangelho com os pés no chão tem se tornado algo cada vez mais difícil de ser encontrado. A tônica hoje parece ser as novidades, não importa como elas venham. O que vale são os resultados que tragam, principalmente os financeiros. Tudo indica que os líderes estão se encantando não com “as verdades” que encontram nessas inovações, mas sim com os lucros que elas têm produzido aos seus proponentes. A materialização de bens, conforto, viagens estão mais para eles do que para os seus fiéis.
Como posso dizer isso? Pelo que se vê, pelo fruto, pelo testemunho, pela glória humana que estão tendo, sobre a qual não são capazes de ensinar, desmistificando falsos entendimentos (dos seus fiéis) de que não são dignos de ser bajulados, endeusados. Ou será que estou materializando pensamentos equivocados, que me fazem enxergar uma realidade que na realidade não é o que está acontecendo?

Vamos pensar nisto!

José Martins

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Link interessante

Com relação ao que tenho falado (escrito) sobre a teologia da prosperidade, o jornalista Jair Viana escreve algo interessante no sítio do Centro Apologético Cristão de Pesquisa:
http://www.cacp.org.br/confissao_positiva.htm

José Martins

quarta-feira, 6 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte IV

Continuação de 04 06 07

É difícil algum líder dizer: eu sou adepto da doutrina da prosperidade. O que o classifica como simpatizante, adepto ou usuário de pontas da doutrina são os seus discursos e principalmente as suas práticas, as quais servem de parâmetro para determinar até que ponto está aderindo ao que a doutrina da prosperidade propõe, e entre estas práticas estão as tolerâncias a pregadores que vem à igreja local enfatizando ações e práticas advindas desta teologia, como por exemplo:

1- o que determina a prosperidade é somente o dar (dar o dízimo, por exemplo); será próspero aquele que dá mesmo que não pratique justiça na sua vida (este é o segredo da prosperidade dizem eles, baseando-se em Malaquias 03); a prosperidade material não está na vida reta, oração, no ser espiritual juntamente com o dar, mas unicamente no dar. Este tipo de ensino tende a criar crentes descomprometidos com a verdade e com a espiritualidade, tende a criar crentes materialistas, e diminutos em compaixão pelos que menos tem.

2- Você tem que determinar e declarar para que as coisas aconteçam. Este tipo de afirmação é oriundo da confissão positivista existente na doutrina da prosperidade que defende que as nossas palavras se materializam, assim como o haja de Deus se materializou quando da criação do mundo. (Aliás, nessa materialização das nossas palavras entram argumentos envolvendo a física quântica, da qual os crentes, em meu ponto de vista, passarão a ouvir cada vez mais, que servirá de argumento para tentar convencê-los de que podem ter o que quiserem – ESTE ASSUNTO DA FÍSICA QUÂNTICA SERÁ DISCUTIDO EM TEXTOS VINDOUROS).

3- Condicionamento da benção a ofertas em cultos específicos para benção. Traga o seu pedido de oração e proponha dar 50, 20 ou 10 reais(usando cifras baixas) e Deus vai dar a benção. São pregadores que penetram à mente de Deus com uma facilidade espantosa para ver a quem Deus vai abençoar.

A nossa vida não deve ser medida pelas posses que temos, o mundo é que procede desta maneira. A igreja tem de ter uma mensagem diferente para os que nela adentram, mensagem que produza e dê algo diferente do que encontramos lá fora no dia-a-dia, na adversidade da vida, mensagem que nos faça sair mais humanos e esperançosos de que pela misericórdia, pelo amor, pela paz, pela vida em comunhão com Deus, deixando o pecado, tudo que ele tem posto dentro de nós, poderemos fazer a diferença em algum aspecto, em alguma vida.
Nunca foi tão necessário estarmos atentos, vigilantes e firmados naquilo que o evangelho realmente nos propõe, que é dependermos Dele, nEle estarmos e para Ele vivermos, porque ele tem cuidado de nós. Crentes amadurecidos sob as condições da mensagem da cruz discernem e ficam dentro do que lhes foi revelado através das Escrituras e tomam o que Paulo disse aos coríntios seriamente: ... para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito... (1 co 4.6).
Também, David Wilkerson, fundador do Desafio Jovem (centro de recuperação de jovens drogados) no qual todos os outros centros existentes no mundo se inspiraram, em um de seus ensinos na igreja Times Square em Nova Iorque, falando sobre este outro evangelho, o da prosperidade, diz:

A marca do crente maduro é a recusa em ser “levado ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios 4:14). Tais crentes não são manipulados por nenhum mestre. Não têm necessidade de correr de um lado para o outro porque estão crescendo em Cristo. Estão se banqueteando em pastos verdejantes. Circuncidaram os ouvidos, e avaliam cada mestre, cada doutrina, segundo o padrão de santidade de Cristo. Podem discernir todas as falsas doutrinas e repelem todos os ensinos estranhos, novos. Eles aprenderam Cristo. Não ficam presos à música, aos amigos, às personalidades marcantes ou aos milagres, mas à fome pela Palavra pura [...] O maior engodo da igreja moderna é a questão de usar a Palavra de Deus para dar um rótulo de aprovação à ganância. http://www.tscpulpitseries.org/portuguese/ts880118.htm

Incentivo a posses, a ter, e ter em detrimento do ser, pode criar e acumular avarentos dentro da igreja, não avarentos no sentido de reter e não contribuir, mas no sentido de ter como objetivo maior em suas vidas o palpável, o tangível. Quanto a isto, Jesus recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui (Lucas 12.15).
Se ele tem cuidado de nós, isso nos é suficiente. O evangelho é suficiente na nossa vida para dar conta do que precisamos, não há necessidade de truques, segredos, revelações especiais; é tudo muito simples, são as boas novos que Cristo trouxe, nada de misterioso, nada que qualquer um não possa entender, é tudo muito raso, muito nítido.
É o que o apóstolo João em sua 1ª carta, capítulo 5 e versículo 14 ensina: E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.
Note que as expressões esta é a confiança / que temos aparecem em um tempo verbal, presente do indicativo, que denota factualidade (certeza, realidade, algo que acontece), mostrando que realmente Ele cuida de nós. Entretanto, o cuidar é segundo o querer dEle e não o nosso, o que se pode depreender da segunda parte do versículo, que observa uma condição no cuidar Deus, que é a vontade de Deus, que se manifestará de acordo com a natureza do nosso pedido – o nosso pedido tem de estar dentro da condição de Deus.
Que nós temos de confiar nEle, isso é indiscutível (sem fé ninguém pode agradar a Deus Hb 11.6 *).
Que Ele cuida de nós é verdade posta por Jesus e o contrário seria dizer que o evangelho é uma mentira, uma farsa.
Que Ele sabe o que é melhor para nós é algo que temos de aceitar.
Isso é fé. É crer na mão invisível de Deus nos conduzindo. É descansar nEle, e não correria atrás de benesses a qualquer custo.

* Este verso, antes de se referir a possibilidade de qualquer sinal (cura, dons, prosperidade), se refere ao crer que Deus existe, que ele é real, e em segundo lugar, tão somente em segundo lugar, Ele é galardoador – porque é da natureza de Deus abençoar. Portanto a verdadeira fé parte da convicção de que Ele é real; os resultados (os galardões) são conseqüência disto. O segundo aspecto, segundo a Bíblia, não precede o primeiro; quem o coloca como precedendo está tentando conformar a Palavra de Deus a teorias humanas, a interesse próprio, a visão daqueles que caminham pelo que vêem.

Vamos pensar nisto!

José Martins

segunda-feira, 4 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte III

Continuação do texto de 27 05 07

O Velho Testamento é o terreno mais explorado pelos defensores do evangelho da prosperidade porque no Novo, os argumentos ficam mais reduzidos, especialmente nos ensinamentos de Jesus Cristo e nas cartas de Paulo.
Abraão, Jó, José, Ester, Davi, Salomão são os personagens preferidos na apologia de que na Bíblia há um segredo, esquema de se conquistar materialmente o que se deseja.
Todos estes foram pessoas bem sucedidas que demonstram, sem dúvida alguma, e não discordamos disto, que Deus faz prosperar, a final, Ele é o Deus que tudo pode e tudo tem.
Abraão não tinha e passou a ter, Jó sempre teve, José saiu do campo e foi elevado à posição de segundo faraó, Ester do nada foi elevada a rainha, Davi não tinha e passou a ter, Salomão herdou a riqueza do pai e a agigantou.
Agora, os pregadores da prosperidade se esquecem de olhar para a vida de Noé, homem cuja pujança material a Bíblia não menciona; esquecem-se de Moisés que era e muito tinha e deixou de ter para ser; esquecem-se de Samuel que nunca teve grande coisa; esquecem-se de Elias, qual era a riqueza de Elias? Esquecem-se de Daniel que não tinha, passou a ter e deixou de ter; esquecem-se de Jeremias, Ezequiel e tantos outros profetas que pouco tiveram materialmente;e esquecem-se de olhar para o final da lista dos heróis da fé, mencionada na Carta ao Hebreus 11.36-38, que diz:

outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados
(homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Que contradição o que estes versículos revelam ao que tanto se vê hoje, a exacerbada ênfase a riquezas, à melhor casa, ao melhor carro, ao melhor emprego, ao melhor isso ou aquilo, e muito pouca ênfase ao melhor da alma, do coração, da verdade, da justiça para Deus e para aqueles que nos rodeiam, quer sejam crentes ou não.
Como já disse anteriormente, é um tipo de evangelho (não o Evangelho) que tem feito com que um número grande de pessoas se frustre e se afaste quando percebem a falácia na qual foram engodados.
Evangelho que não passa primordialmente e primeiramente pelas necessidades da alma, da compreensão de um mundo tão cheio de adversidades, como o que vivemos, gera pessoas sem reflexão existencial (não conseguem entender a vida), sem percepção interpretativa do que lhes está sendo passado e inculcado. Esse tipo de evangelho cria pessoas que só aplaudem, e quando não o fazem, vem-lhes à mente a falsa percepção de que estão se omitindo em alguma coisa e perderão a benção (especialmente a material). Este comportamento pode ser explicado como sendo o resultado do condicionamento que a falta de reflexão, à luz da Palavra de Deus, sobre o que se ouve e se lê acaba gerando.

Sobre a doutrina da prosperidade, ainda, há aqueles que argumentam: É, realmente a doutrina da prosperidade é falsa, mas não podemos negar que a Bíblia fala em prosperidade; não podemos ser contra a prosperidade.

É verdade, seria falta de juízo espiritual ser contra a prosperidade dos que amam a Deus, seria como ser contra Deus, pois o próprio Jesus explicitou que é cabível aos que são de Deus prosperar, porém como conseqüência do viver o reino de Deus como prioridade, o que apontei em textos anteriores.

Contudo, há que se observar que neste discurso de que não aprovo a doutrina da prosperidade mas entendo que a prosperidade existe é que mora o perigo.
Esse discurso tende a fortalecer o acomodamento, a evitar o questionamento do que vemos e ouvimos na igreja e faz com que a doutrina da prosperidade esteja mais presente em nossas reuniões do que pensamos. O que começou com alguns respingos há anos atrás, hoje passou de garoa a chuva. Não somos adeptos de tal doutrina, mas muitas de suas práticas fazem parte de nossos cultos hoje; talvez em alguns casos por medo de errar e ir contra "aquilo que é de Deus”.

Continua ...

José Martins

sexta-feira, 1 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte II

Continuação do dia 27 05 07

Hoje o evangelho se tornou, para um grande número de cristãos, apenas um canal para o sucesso na vida, sucesso medido principalmente pelo poder material.
O evangelho que mais se vê, é o evangelho que absorveu a proposta materialista, a proposta competitiva de sermos, como cristãos, os melhores em tudo, oriunda da filosofia positivista, das teorias de mercado (em que o melhor é o que lidera e mais tem). O lema é estar por cabeça e não por calda. Saia da frente que estou passando. Se você não cuidar, tomo a sua posição, tomo o seu status, o seu tudo, absorvo você – não é assim que acontece no mercado comercial, os grandes engolindo os pequenos? Não é essa a mensagem que muitos pregadores estão pregando no lugar onde se vai para buscar descanso para o ser e onde este tipo de pensamento e atitude deveriam ser desconstruídos, com o objetivo de que as pessoas, após ouvir uma palavra do Evangelho, saíssem mais humanas, solidárias, levando para fora algo diferente da batalha individualista, na qual estão envolvidos diariamente?
Nesta proposta toda, a das posses, Deus virou a grande fonte de benesses a egos inchados, instigados por pregadores que mercantilizam as dádivas divinas com fins lucrativos pessoais. Deus é fonte de benesses, mas não creio que o seja se o que temos e vamos ter não passe pelo descansar na sua palavra, no buscai em primeiro lugar o reino dos céus e a sua justiça e as demais coisas serão acrescentadas (Mateus 6.33), sem a afobação de que o que temos é evidência da nossa fé, é a materialização da nossa fé, e sem necessidade de provar algo a alguém.
Buscar o reino de Deus em primeiro lugar virou mensagem de cristão sem “agressividade”, sem convicção das promessas de Deus; o lema é determinar, exigir os direitos, pôr Deus contra a parede porque “Ele não pode negar a si mesmo”.
Há pessoas ansiosas, querendo demonstrar a sua fé e que são de Deus, através daquilo que possuem. Quantos têm se frustrado quando não alcançam o que planejam materialmente, quando não alcançam o que lhes foi dito que alcançariam se crescem.
Se frustraram porque o que professaram não era fé para a vida eterna, mas para o agora abastado. Se frustraram porque talvez o que viveram, o fizeram na esperança material, e não no evangelho que mira o porvir, mas que também não despreza o agora, porque Ele cuida de nós como cuida das aves. Se frustraram porque creram num evangelho que não reflete a dimensão do que foi feito no calvário: Deus vindo a nós e nos libertando da incapacidade de vermos a nós mesmo, de compreendermos a nós mesmo, quem éramos, quem somos, e para onde vamos e porque existimos. Sem a obra de Jesus na cruz não teríamos como enxergar isto, e então, agora dependemos dEle, passamos por Ele para ter o que precisamos, só porque Ele tem cuidado de nós.
Se frustraram porque creram num triunfalismo pregado na aplicação descontextualizada do verso de Paulo: Tudo posso naquele que me fortalece. O contexto em que Paulo usa estas palavras é de saber estar em abundância e saber estar em carência, de saber estar pra baixo e saber estar com todo o ânimo, de saber padecer e saber triunfar. Não é contexto de invencibilidade; não é contexto de sai da frente capeta, porque sou filho do Rei. Os filhos do rei foram chamados a sofrer também, assim como Ele sofreu, a ter e não ter, assim com Ele teve e não teve, porque o amam, porque sabem que Ele lhes devolveu a vida e à vida, porque sabem que Ele se importou e se importa com eles de tal forma que os quer ao seu lado para todo o sempre, porque foram criados à sua imagem e semelhança, são a coroa da criação, são a expressão dEle no pensar, agir, ter história, sonhar, amar, projetar, viver, no livre arbítrio.

Os bens matérias são conseqüência e não fins para o cristão que busca viver segundo o exemplo de Jesus e dos seus discípulos.

Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?

Ainda no texto abaixo

1 Timóteo 6.10-12
10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.
11 Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.
12 Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.

O apóstolo fala que alguns na cobiça pelo dinheiro se desviaram da fé. A cobiça ao dinheiro se manifesta de várias formas e uma delas é pela ênfase e insistência à sua aquisição, que cria à mente dos influenciados uma névoa que os despista da compaixão de Cristo, os torna aguerridos, indiferentes, presunçosos, quase tudo aquilo que Jesus não desejou para aqueles que se chamam pelo seu nome.

No céu, eu só tenho a ti. E, se tenho a ti, que mais poderia querer na terra? Salmo 73:25

Vamos pensar nisto!

José Martins

domingo, 27 de maio de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte I

Não andeis ansiosos com as coisas materiais é a mensagem de Jesus.

Mateus 6. 25-30
25 Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?
26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?
27 Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?
28 E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.
29 Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?


Como somos matéria, além de sermos alma e espírito, e vivermos num mundo físico-material, a nossa propensão é enxergar as coisas muito mais a partir de uma perspectiva física, daí valorizarmos tanto o palpável.
Jesus veio nos mostrando que o material é passageiro, e de verdade não é? Quem dos mortais até hoje ultrapassou os séculos é até hoje continua vivo, cem, duzentos, trezentos e tantos anos?
A verdade é que vamos passar assim como a neblina que ora está e depois já não está mais.
Então, nas palavras de Jesus, não vale a penas nos afligirmos, nos atormentarmos, fazermos da materialidade, e para muitos do materialismo, a essência da nossa vida.
As palavras de Jesus, acima, nos propõem o descanso, a esperança, a fé. Nos tornamos homens e mulheres de pequena fé quando fazemos da nossa fé um chamamento a existência primordialmente através do que é visível e tangível.O visível e o tangível têm sua parte no breve tempo que vivemos aqui e temos de dar atenção a isto também, mas não como se tudo se resumisse ao visível e tangível. A oportunidade de crescer, de progredir deve ser aproveitada, porém de forma natural, como algo que chega a nós, sempre lembrando das palavras do apóstolo Paulo: Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição (1 Timóteo 6.9).O que não se pode é padronizar a benção de Deus como muitos têm procurado fazer, como dizer a uma platéia: Deus quer te dar o melhor carro, Deus quer que você tenha a melhor casa da cidade (discurso produzido por embalo do positivismo sem reflexão). Há que se perguntar quantos “melhor carro” serão necessários? Qual é o melhor carro? O que esse carro tem que ter? Essa é uma mensagem de consumismo. Vivemos num país onde a velocidade máxima permita nas nossas rodovias varia de 80 a 110 quilômetros por hora. Qual o objetivo de ter um carro que ande a 250 Km/h, senão ostentação! Isso é o que muitos pregadores têm despertado, desejo de ter, de ostentação. Quantas “melhor casa da cidade” serão necessárias? O que e qual é a melhor casa? Quantos crentes têm alcançado o melhor carro e ou a melhor casa? Quantos e quantas são os mais bem sucedidos da cidade?
A fé não precisa de induções inconsistentes para se manifestar, precisa simplesmente existir e então através dela uns terão mais e outros menos, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um (Romanos 12.3).
Assim como há diversos níveis de inteligência, de percepção, de aptidão, de força física, há diversos níveis de fé, de resultado da fé, de espiritualidade; e não há evidência na Bíblia de que Deus queira que todos sejam nivelados, mas antes ele procurará aproveitar a cada um para o que for melhor, de acordo com a característica de cada um. Ele é o Deus da prata e do ouro, mas isso não significa que Ele terá de nos abençoar da forma como queremos ou como alguém nos profetizou.
Jesus, nos versos acima, em meu ver, quer dizer que aqueles que vêem no Pai, vêem nEle, o sentido da vida serão contemplados pelo Pai e o Pai não negligenciará as suas necessidades; o que de material precisarmos ele tem para nos dar, basta nEle crer, crer acompanhado de honestidade, trabalho, esforço, disposição para a vida, usando os recursos físicos e intelectuais que temos (há quem não se esforce e pensa que vai progredir, como?).
Parece que hoje não estamos dando conta do crer que Jesus propôs, que começa em Deus, sobrevive em Deus e em Deus descansa, porque Ele cuidará de nós. O nosso crer se tornou um crer material, acho que por que começamos pela ponta errada, a dos resultados que a fé pode trazer (essa é a ênfase que se tem dado) e não a da fé que existe e por conseqüência traz resultados; o objetivo são os resultados e não a fé. Fé que é fé, segundo o Evangelho, produz resultados os quais não precisamos insistir que outros os apresentem, tenham, porque as coisas do Espírito são como o vento que sopra onde quer e ninguém sabe para onde vai. Não há macetes, chaves, segredos para que Ele cuide de nós, para que os resultados da fé apareçam, basta estar nEle e para Ele viver, de corpo, de alma, de espírito, de verdade: de todo o teu coração, de toda a tua alma (Marcos 12.30). É como planta que com o molhar da terra cresce, ganha força, desponta. A fé do Evangelho é fé que depende da água que Ele der. Ele sabe o que as suas plantas precisam e a quantidade que precisam para estar bem. (Continua ...)

quinta-feira, 17 de maio de 2007

SOBRE O SEGREDO (continuação do texto de 16-05-07)

O eu-posso-tudo-o-que-quiser norteia o plot do filme O Segredo. Para fortalecer esta idéia, exemplos de personagens da história mundial são apresentados, dentre os quais Martin Luther King, Beethoven, Abraão Lincoln, Platão ...
A presença de Abraão Lincoln no imagético do filme, a meu ver, é descontextualizada, visto que Lincoln era um dos chamados crentes em Deus e de Deus dependia, era homem de dobrar os joelhos para orar e pedir a direção de Deus para as suas decisões, atitude de subserviência e humildade não compatíveis com a filosofia positivista, que enfatiza o homem como cerne do que acontece à sua volta. Perdeu eleições antes de chegar à presidência, por muitos foi criticado; na sua época, o país estava dividido entre aqueles que o apoiavam e os que queriam o seu fim. Foi reconhecido como um grande líder somente após a sua morte.
O mesmo ocorre com Martin Luther king, que era pastor evangélico e ativista em prol da igualdade racial. Também era homem que tinha como crença a dependência na vontade de Deus. Só conseguiu o que conseguiu com esforço e luta, e não com a simplicidade de imagens mentais.
Em relação a Martin Luther King, a revista Newsweek fala:

Martin Luther King Jr. is enlisted as author of an epigram about taking a staircase one step at a time. King certainly could visualize. But he also knew better than to sit back and wait for the law of attraction to send down justice; he went out and worked for it. And there's no secret to that.

Martin Luther King Jr. é apresentado como autor de um epigrama acerca do subir uma escada degrau por degrau. King certamente era capaz de visualizar. Porém o seu conhecimento ia além de sentar-se e esperar que a lei da atração trouxesse justiça; ele foi ao trabalho pela justiça. Não há segredo nisto.

Penso que o que esses homens alcançaram foi fruto de muita luta, dor, aflição, confiança no Deus em quem criam, e perseverança (o que é mais do que mero positivismo imagético), porque crer sem perseverar é receita à desistência.
O filme, ainda, num ensino, a meu ver, de egoísmo, individualismo e preconceito, sugere que não devemos olhar (literalmente) para coisas indesejáveis. Pessoas gordas não devem ser olhadas, pois, pela lei da atração, atrairíamos a gordura para nós. Isso se parece com crendice popular, como aquela que mulher grávida deve olhar para crianças bonitas para que o bebê nasça bonito: “Não olhe pra sapo, vai nascer um filho feio!”
Será que o segredo de O Segredo não está nas cifras que a produção busca e tem alcançado, o que se dá mais pela inquietude da alma humana do que por verdades que contenha.


(do sítio de O Segredo)

Para a psicóloga Carol Kauffman da Universidade de Harvard, “basicamente, é a teoria do caos ... Eu penso que você, na verdade, não atrai coisas para você mesma. Mas se você está profundamente aberta a oportunidade, então quando eventos ambíguos ocorrem, você os percebe. Eu acho que o que o pensamento positivo faz, é aumentar a sua consciência para possibilidades que conseqüentemente acabam chamando a sua atenção” (Newsweek Magazine - minha tradução).
Byrne, uma das proponentes de O Segredo, que aparece falando no filme, em resposta a uma pergunta sobre o massacre de Ruanda diz:

"If we are in fear, if we're feeling in our lives that we're victims and feeling powerless, then we are on a frequency of attracting those things to us ... totally unconsciously, totally innocently [...]"

Se nós estamos com medo, se estamos sentindo que somos vítimas e nos sentindo impotentes, então estamos na freqüência de atração daquelas coisas ... totalmente inconscientes, inocentemente ...

Sendo assim, se pensarmos no Tsunami que atingiu a Ásia em 2004, teríamos milhares e milhares de pessoas atraíndo aquela tragédia toda?
Se O Segredo é o segredo, por que vendê-lo? Quantas pessoas poderiam ter suas vidas mudadas, salvas de problemas e destruição pelo conhecimento deste segredo? Não é lei do universo este segredo? Se é do universo, não é de ninguém. Por que esta promoção toda para vender os livros e os DVDs desta “verdade” que não pertence a ninguém? Aqui me vem à mente a palavra do Evangelho que diz que o que recebemos de graça, de graça devemos dar.
Eu prefiro o segredo de Jesus Cristo, que não é segredo algum; é muito claro, nada que ninguém não possa entender; é raso o suficiente para que todos possam alcançá-lo e pegá-lo para si. Está aberto a quem quiser. Não aquele vendido, à semelhança de O Segredo, pelos “tele-evangelistas e ministros do evangelho” das promessas dos carros novos, casas novas, dos empregos de ponta, pregadores de um outro evangelho, o da prosperidade, mas que não são do Evangelho.
Quem critica esses pregadores, e eu não discordo que tais falácias sejam criticadas, e absorve facilmente O Segredo como sendo algo incrível de bom, deveria parar de criticá-los, pois o segredo não traz nada diferente, a fórmula do palpável e tangível é a mesma: a simplicidade e facilidade com que se pode conseguir o que se quiser pagando pelo 'know-how' do sucesso.
Volto a dizer, prefiro o Evangelho de Jesus que é aquele do “buscai em primeiro lugar o reino dos céus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”. Jesus está dizendo que ninguém vai deixar de ter (talvez não fique rico) se a vida for pautada do fundo da alma, do coração, por aquilo que vem de cima, aquilo que Ele ensinou, que é não viver para as coisas da terra somente. O resto é o resto. O resto é que tem levado pessoas inteligentes a absorverem discursos persuasivos e apelativos de livros e filmes, como O Segredo, que engordam as contas de quem os vendem; discursos que revelam a alma vazia de uma grande parte da sociedade moderna.
Para muitas pessoas, a falta de percepção de quem são e a falta de percepção do valor da sua existência para quem as rodeia, leva à percepção de si mesmas primeiramente pelo palpável, pelo material, que se manifesta em posses, para onde se pode viajar, o que se pode vestir, comer... e estar sempre numa disputa pelo melhor e ser o melhor. Esse individualismo tende a se manifestar em materialismo e a esquisitice do abandono da compaixão, da misericórdia. Pouco tempo sobra para as coisas da alma quando só se pensa no "sucesso".
Você pode tudo o que você quiser, é a proposta de O Segredo. Falácia. Qual dos proponentes de O Segredo pode fazer com que um de seus cabelos brancos volte a ser o que era antes, sem o uso de tinta? Qual deles seria capaz de acrescentar um palmo a sua altura que não fosse por intervenção da ciência? Qual deles poderia paralisar o tempo para que um só vinco de ruga deixasse de aparecer à face, sem que o bisturi ou o botox estivesse presente?
Querer dizer que o ser humano pode tudo, que não há limites para o tudo, só pode ser objeto de venda de livros e filmes, o que a Newsweek expressa na frase:

But this 'new thought' may just be new marketing.

Mas este ‘novo pensamento’ pode ser apenas um novo marketing.

As pessoas são muito mais pessoas quando elas naturalmente e espontaneamente procuram não ser, essa naturalidade de ser faz delas pessoas que são e conseqüentemente as conquistas as seguirão.



José Martins

quarta-feira, 16 de maio de 2007

SOBRE O FILME O SEGREDO

O filme O Segredo, que já vendeu mais de um milhão de cópias de DVDs e mais do mesmo número em livros, se apresenta como um prato cheio ao analista crítico do discurso (que busca o que vai por trás dos textos, suas persuasões, induções, apelos, opressões etc).
Em meu ponto de vista, o filme apresenta simploriamente um positivismo filosófico-religioso pautado na factualidade e asserção (não há espaço para hipóteses, possibilidades, como se a realidade da vida fosse absolutamente como retratada no filme - possibilidades e hipóteses passariam idéias de incerteza, as quais interfeririam na decisão de o leitor ou espectador tomar o proposto como verdade) que procura convencer os espectadores de que a solução para tudo está na forma como vemos as coisas. Se as virmos positivamente, isto é, a partir de uma mentalização imagética que projete o que queremos (seja carro, casa etc.) ou do que queremos modificar em termos de comportamento (alimentar, relacional) alcançaremos sem dúvida alguma - é a lei da atração. O Segredo é uma suposta lei de atração presente no universo que envolve a todos. Quem pensa em coisas boas, as atrairá, quem em coisas ruins, será alcançado por elas.
A revista Newsweek diz o seguinte sobre O Segredo (a minha tradução vem logo abaixo em azul) (http://www.msnbc.msn.com/id/17314883/site/newsweek/):

On an ethical level, "The Secret" appears deplorable. It concerns itself almost entirely with a narrow range of middle-class concerns—houses, cars and vacations, followed by health and relationships, with the rest of humanity a very distant sixth. Even some of the major figures in the film confess to uneasiness with its relentless materialism. "I love 'The Secret' but I also think it's missing a couple things," says "metaphysician" Joe Vitale.

Em o nível ético, “O Segredo” é deplorável. Lida quase que integralmente com as preocupações da classe média – casas, carros e férias, seguidas por saúde e relacionamentos, deixando à distância aspectos de humanidade. Até mesmo algumas das principais figuras do filme admitem desconforto com o acentuado materialismo do filme. “Eu adoro ‘O Segredo’ mas eu acho que lhe falta uma série de coisas’, diz o metafísico JoeVitale.

A característica factual e assertiva do filme também pode ser verificada no próprio sítio de “O Segredo” (http://thesecret.tv/home.html):

This is The Secret to everything ... the secret to unlimited joy, health, money, relationships, love, youth: everything you have ever wanted.

Este é O Segredo de todas as coisas … o segredo para a alegria ilimitada, saúde, dinheiro, relacionamentos, amor, juventude: tudo o que você quiser.

In this astonishing program are ALL the resources you will ever need to understand and live The Secret. For the first time in history, the world's leading scientists, authors, and philosophers will reveal The Secret that utterly transformed the lives of every person who ever knew it ... Plato, Newton, Carnegie, Beethoven, Shakespeare, Einstein.

Neste tremendo programa estão TODOS os recursos que você sempre precisará para entender e viver O Segredo. Pela primeira vez na história, os melhores cientistas, autores e filósofos do mundo revelarão O Segredo que transformou as vidas de todas as pessoas que o conheceram... Platão, Newton, Carnegie, Beethoven, Shakespeare, Einstein.

Now YOU will know The Secret.

Agora VOCÊ conhecerá O Segredo.

And it will change your life forever.

Ele mudará a sua vida para sempre


Note as expressões da tradução do texto do sítio (em azul):

este é O Segredo (presente do indicativo, fato real).
estão TODOS os recursos (presente do indicativo, fato real).
Pela primeira vez na história (frase de efeito para impressionar, como se tantos outros já não disseram coisas tão iguais. Paul Young Cho, pastor evangélico da Coréia do Sul, há mais de 20 anos atrás, já falava em criar imagem do que se desejasse para que pela “fé em Jesus” o imaginado viesse a se materializar).
Os melhores cientistas, autores e filósofos do mundo (tentativa de validar o discurso do filme, apresentando supostas autoridades que receberam a classificação de os melhores não se sabe por quais critérios).
Platão, Newton ... (uso de personagens da história para validar o proposto como se elas tivessem alcançado o que alcançaram seguindo os passos de O Segredo – isto é estratégia de persuasão pelo impacto do testemunho; são histórias que normalmente se apresentam descontextualizadas).

José Martins

domingo, 13 de maio de 2007

Início

Criei este blog como partida de discussão de muitos pontos que permeiam minha vida e a dos que me rodeiam; pontos que foram, são e serão. Aqui contecerão discussões do que acontece no país, fora dele, em conexão com a espiritualidade do ser humano e sua brevidade num mundo de tantas diferenças, indiferenças e contradições, onde, em meu ponto de vista, alguns pensam que são e não são; onde aqueles que naturalmente e simplesmente não se vêem como sendo é que são. Aqui me lembro das palavras de Jesus Cristo: "...porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande" Lc 9.48.

Um abraço