domingo, 24 de junho de 2007

Física Quântica e Os Pregadores da Prosperidade

A física quântica (mecânica quântica) está na boca de muitos espiritualistas, esotéricos e está chegando aos meios evangélicos para explicar milagres e como alcançá-los.

Mas de que trata a física quântica?

Almir O. Caldeira, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp, a define com sendo “a teoria que descreve o comportamento da matéria na escala do ‘muito pequeno’, ou seja, é a física dos componentes da matéria; átomos, moléculas, e núcleos ...”
Ele, ainda, explica que sem o conhecimento da física quântica não teríamos o CD, controle remoto, forno de microondas, ressonância magnética, microcomputador, todos os aparelhos high-tech http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm .
Ainda, para Osvaldo Pessoa Jr. (Professor Doutor do Depto. de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), a física quântica “descreve os objetos microscópicos, como átomos, e sua interação com a radiação (luz, etc.)”.
Portanto, ela trata das partículas microscópicas, subatômicas, as quais formam, compõem a matéria e por conseqüência também são matéria.
Os físicos quânticos, através de vários experimentos, têm provado que a luz, que é energia, apesar de não-palpável, também é substância, matéria. Por exemplo, a materialidade da luz pode ser sentida na pele, dependendo do tipo de luz, pelo calor.
A luz, segundo a física quântica, é formada de quanta, quantidades específicas mensuráveis de partículas (feixes de matéria) que liberam energia. Não somente a luz, mas tudo o que vemos e não vemos a olho nu na natureza é composto destes feixes de mini-partículas energéticas.

Qual é a relação disso com espiritualidade?
A resposta é que estão usando as teorias da física quântica para tentar explicar qualquer fenômeno, inclusive os espirituais (ou supostos espirituais). As palavras de Almir Caldeira nos remetem a essa tendência - http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm :

“[...]tudo indica que a mecânica quântica seja a teoria correta para descrever os fenômenos físicos em qualquer escala de energia”.

Também, agregue-se a isso o fato de alguns físicos quânticos, além de serem físicos, serem espiritualistas e, daí, acabarem ligando uma coisa com a outra e teorizando sobre espiritualidade, através da física quântica.

Eu diria que o uso não científico da física quântica começa neste ponto, porque a partir daí entra, tão somente, a meu ver, especulação.
Muitos desses especuladores propõem que os elementos daquilo que desejamos e queremos estão no universo e pelo nosso pensamento (que para alguns também são matéria, uma vez que suas manifestações podem ser observadas em aparelhos) podemos fazer com que eles se reúnam, trazendo à materialidade o desejado. Esse argumento dos positivistas do presente é fortemente difundido no livro e filme O Segredo (comentado em posts anteriores).
Nesse embalo, tambéme estão entrando evangélicos , os da teologia da prosperidade, os quais estão vindo com o discurso de que podemos trazer à existência o que pensarmos (não pelo mero fato da conseqüência; de que tudo o que fazemos acaba resultando em algo).
A teologia da prosperidade, em sua inovação, está se utilizando de argumentos da física quântica para tentar validar suas falas e práticas, isto é, está passando e vendendo a idéia de que somos donos do milagre e que ele depende somente de nós; nós é que vamos atrair os elementos de matéria energética e trazer à existência o que queremos.
Há pregadores de prosperidade defendendo que a menor partícula da matéria seria o som. Portanto, para esses pregadores as palavras do querer, da fé, têm o poder de materializar o que queremos, uma vez que Deus criou o mundo e tudo o que nele há através do som, da expressão haja. Tal teorização, aliada ao entendimento de que o evangelho a ser pregado é o evangelho do reino e não somente o da salvação, é uma das estratégias para convencer neófitos e obreiros ávidos por novidades.
Para os pregadores da prosperidade, evangelho do reino é o que traz a dimensão do céu à terra, visto que no céu doença alguma, pobreza, falta disso ou daquilo subsistiria por tempo algum.
Este evangelho que enfatiza declarações que tragam à existência o que queremos, vem buscando, na física quântica, novos elementos para se fortalecer (uma das estratégias da teologia da prosperidade, a qual continua atraindo simpatizantes por muitos anos, é a constante inovação, o que não significa fundamento bíblico).
Físicos quânticos sinceros discordam que se fique especulando sobre coisas espirituais através da ciência que estudam, e vêem nisso tudo, apenas, tentativas de dar a teorias espirituais rótulo de algo científico, credibilidade.
O escritor Marcelo Druyan, que discute a ciência e falsa ciência, pensa o seguinte sobre o uso da física quântica para validar teorias espiritualistas:

Pseudociências têm o dom de se apropriarem dos jargões da Ciência para fazer filosofia da pior espécie. Além de arrombarem a porta das teorias científica válidas; dão-se ao luxo de um promíscuo casamento com a Religião e o Misticismo. De tudo, retiram definições e conceitos de seu contexto original para aleijá-los em outros contextos, onde teorias procuram provar uma premissa e, não, explicar uma experiência.
O Misticismo Quântico não é uma moda. Ele veio para ficar, ele já está! No Misticismo Quântico, orações chegam aos céus porque se valem do princípio da não-localidade. Telepatia e clarividência, idem. Demônios são a manifestação do mal que habita um universo holográfico. Santos olham por todos, porque "tudo está em tudo". E Deus, finalmente, pode jogar seus dados em paz, escondido no horizonte de eventos de um grande Buraco Negro.
http://www.ceticismoaberto.com/ceticismo/misticismo_quantico.htm

Qual conselho nos dá Palavra de Deus?

Pedro, em sua segunda carta (2 Pedro 1:16), nos aconselha a sermos cautelosos quanto a invencionices estrategicamente organizadas, as quais ele chama de fábulas:
Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, [...]

Evangelho com os pés no chão tem se tornado algo cada vez mais difícil de ser encontrado. A tônica hoje parece ser as novidades, não importa como elas venham. O que vale são os resultados que tragam, principalmente os financeiros. Tudo indica que os líderes estão se encantando não com “as verdades” que encontram nessas inovações, mas sim com os lucros que elas têm produzido aos seus proponentes. A materialização de bens, conforto, viagens estão mais para eles do que para os seus fiéis.
Como posso dizer isso? Pelo que se vê, pelo fruto, pelo testemunho, pela glória humana que estão tendo, sobre a qual não são capazes de ensinar, desmistificando falsos entendimentos (dos seus fiéis) de que não são dignos de ser bajulados, endeusados. Ou será que estou materializando pensamentos equivocados, que me fazem enxergar uma realidade que na realidade não é o que está acontecendo?

Vamos pensar nisto!

José Martins

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Link interessante

Com relação ao que tenho falado (escrito) sobre a teologia da prosperidade, o jornalista Jair Viana escreve algo interessante no sítio do Centro Apologético Cristão de Pesquisa:
http://www.cacp.org.br/confissao_positiva.htm

José Martins

quarta-feira, 6 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte IV

Continuação de 04 06 07

É difícil algum líder dizer: eu sou adepto da doutrina da prosperidade. O que o classifica como simpatizante, adepto ou usuário de pontas da doutrina são os seus discursos e principalmente as suas práticas, as quais servem de parâmetro para determinar até que ponto está aderindo ao que a doutrina da prosperidade propõe, e entre estas práticas estão as tolerâncias a pregadores que vem à igreja local enfatizando ações e práticas advindas desta teologia, como por exemplo:

1- o que determina a prosperidade é somente o dar (dar o dízimo, por exemplo); será próspero aquele que dá mesmo que não pratique justiça na sua vida (este é o segredo da prosperidade dizem eles, baseando-se em Malaquias 03); a prosperidade material não está na vida reta, oração, no ser espiritual juntamente com o dar, mas unicamente no dar. Este tipo de ensino tende a criar crentes descomprometidos com a verdade e com a espiritualidade, tende a criar crentes materialistas, e diminutos em compaixão pelos que menos tem.

2- Você tem que determinar e declarar para que as coisas aconteçam. Este tipo de afirmação é oriundo da confissão positivista existente na doutrina da prosperidade que defende que as nossas palavras se materializam, assim como o haja de Deus se materializou quando da criação do mundo. (Aliás, nessa materialização das nossas palavras entram argumentos envolvendo a física quântica, da qual os crentes, em meu ponto de vista, passarão a ouvir cada vez mais, que servirá de argumento para tentar convencê-los de que podem ter o que quiserem – ESTE ASSUNTO DA FÍSICA QUÂNTICA SERÁ DISCUTIDO EM TEXTOS VINDOUROS).

3- Condicionamento da benção a ofertas em cultos específicos para benção. Traga o seu pedido de oração e proponha dar 50, 20 ou 10 reais(usando cifras baixas) e Deus vai dar a benção. São pregadores que penetram à mente de Deus com uma facilidade espantosa para ver a quem Deus vai abençoar.

A nossa vida não deve ser medida pelas posses que temos, o mundo é que procede desta maneira. A igreja tem de ter uma mensagem diferente para os que nela adentram, mensagem que produza e dê algo diferente do que encontramos lá fora no dia-a-dia, na adversidade da vida, mensagem que nos faça sair mais humanos e esperançosos de que pela misericórdia, pelo amor, pela paz, pela vida em comunhão com Deus, deixando o pecado, tudo que ele tem posto dentro de nós, poderemos fazer a diferença em algum aspecto, em alguma vida.
Nunca foi tão necessário estarmos atentos, vigilantes e firmados naquilo que o evangelho realmente nos propõe, que é dependermos Dele, nEle estarmos e para Ele vivermos, porque ele tem cuidado de nós. Crentes amadurecidos sob as condições da mensagem da cruz discernem e ficam dentro do que lhes foi revelado através das Escrituras e tomam o que Paulo disse aos coríntios seriamente: ... para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito... (1 co 4.6).
Também, David Wilkerson, fundador do Desafio Jovem (centro de recuperação de jovens drogados) no qual todos os outros centros existentes no mundo se inspiraram, em um de seus ensinos na igreja Times Square em Nova Iorque, falando sobre este outro evangelho, o da prosperidade, diz:

A marca do crente maduro é a recusa em ser “levado ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios 4:14). Tais crentes não são manipulados por nenhum mestre. Não têm necessidade de correr de um lado para o outro porque estão crescendo em Cristo. Estão se banqueteando em pastos verdejantes. Circuncidaram os ouvidos, e avaliam cada mestre, cada doutrina, segundo o padrão de santidade de Cristo. Podem discernir todas as falsas doutrinas e repelem todos os ensinos estranhos, novos. Eles aprenderam Cristo. Não ficam presos à música, aos amigos, às personalidades marcantes ou aos milagres, mas à fome pela Palavra pura [...] O maior engodo da igreja moderna é a questão de usar a Palavra de Deus para dar um rótulo de aprovação à ganância. http://www.tscpulpitseries.org/portuguese/ts880118.htm

Incentivo a posses, a ter, e ter em detrimento do ser, pode criar e acumular avarentos dentro da igreja, não avarentos no sentido de reter e não contribuir, mas no sentido de ter como objetivo maior em suas vidas o palpável, o tangível. Quanto a isto, Jesus recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui (Lucas 12.15).
Se ele tem cuidado de nós, isso nos é suficiente. O evangelho é suficiente na nossa vida para dar conta do que precisamos, não há necessidade de truques, segredos, revelações especiais; é tudo muito simples, são as boas novos que Cristo trouxe, nada de misterioso, nada que qualquer um não possa entender, é tudo muito raso, muito nítido.
É o que o apóstolo João em sua 1ª carta, capítulo 5 e versículo 14 ensina: E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.
Note que as expressões esta é a confiança / que temos aparecem em um tempo verbal, presente do indicativo, que denota factualidade (certeza, realidade, algo que acontece), mostrando que realmente Ele cuida de nós. Entretanto, o cuidar é segundo o querer dEle e não o nosso, o que se pode depreender da segunda parte do versículo, que observa uma condição no cuidar Deus, que é a vontade de Deus, que se manifestará de acordo com a natureza do nosso pedido – o nosso pedido tem de estar dentro da condição de Deus.
Que nós temos de confiar nEle, isso é indiscutível (sem fé ninguém pode agradar a Deus Hb 11.6 *).
Que Ele cuida de nós é verdade posta por Jesus e o contrário seria dizer que o evangelho é uma mentira, uma farsa.
Que Ele sabe o que é melhor para nós é algo que temos de aceitar.
Isso é fé. É crer na mão invisível de Deus nos conduzindo. É descansar nEle, e não correria atrás de benesses a qualquer custo.

* Este verso, antes de se referir a possibilidade de qualquer sinal (cura, dons, prosperidade), se refere ao crer que Deus existe, que ele é real, e em segundo lugar, tão somente em segundo lugar, Ele é galardoador – porque é da natureza de Deus abençoar. Portanto a verdadeira fé parte da convicção de que Ele é real; os resultados (os galardões) são conseqüência disto. O segundo aspecto, segundo a Bíblia, não precede o primeiro; quem o coloca como precedendo está tentando conformar a Palavra de Deus a teorias humanas, a interesse próprio, a visão daqueles que caminham pelo que vêem.

Vamos pensar nisto!

José Martins

segunda-feira, 4 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte III

Continuação do texto de 27 05 07

O Velho Testamento é o terreno mais explorado pelos defensores do evangelho da prosperidade porque no Novo, os argumentos ficam mais reduzidos, especialmente nos ensinamentos de Jesus Cristo e nas cartas de Paulo.
Abraão, Jó, José, Ester, Davi, Salomão são os personagens preferidos na apologia de que na Bíblia há um segredo, esquema de se conquistar materialmente o que se deseja.
Todos estes foram pessoas bem sucedidas que demonstram, sem dúvida alguma, e não discordamos disto, que Deus faz prosperar, a final, Ele é o Deus que tudo pode e tudo tem.
Abraão não tinha e passou a ter, Jó sempre teve, José saiu do campo e foi elevado à posição de segundo faraó, Ester do nada foi elevada a rainha, Davi não tinha e passou a ter, Salomão herdou a riqueza do pai e a agigantou.
Agora, os pregadores da prosperidade se esquecem de olhar para a vida de Noé, homem cuja pujança material a Bíblia não menciona; esquecem-se de Moisés que era e muito tinha e deixou de ter para ser; esquecem-se de Samuel que nunca teve grande coisa; esquecem-se de Elias, qual era a riqueza de Elias? Esquecem-se de Daniel que não tinha, passou a ter e deixou de ter; esquecem-se de Jeremias, Ezequiel e tantos outros profetas que pouco tiveram materialmente;e esquecem-se de olhar para o final da lista dos heróis da fé, mencionada na Carta ao Hebreus 11.36-38, que diz:

outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados
(homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Que contradição o que estes versículos revelam ao que tanto se vê hoje, a exacerbada ênfase a riquezas, à melhor casa, ao melhor carro, ao melhor emprego, ao melhor isso ou aquilo, e muito pouca ênfase ao melhor da alma, do coração, da verdade, da justiça para Deus e para aqueles que nos rodeiam, quer sejam crentes ou não.
Como já disse anteriormente, é um tipo de evangelho (não o Evangelho) que tem feito com que um número grande de pessoas se frustre e se afaste quando percebem a falácia na qual foram engodados.
Evangelho que não passa primordialmente e primeiramente pelas necessidades da alma, da compreensão de um mundo tão cheio de adversidades, como o que vivemos, gera pessoas sem reflexão existencial (não conseguem entender a vida), sem percepção interpretativa do que lhes está sendo passado e inculcado. Esse tipo de evangelho cria pessoas que só aplaudem, e quando não o fazem, vem-lhes à mente a falsa percepção de que estão se omitindo em alguma coisa e perderão a benção (especialmente a material). Este comportamento pode ser explicado como sendo o resultado do condicionamento que a falta de reflexão, à luz da Palavra de Deus, sobre o que se ouve e se lê acaba gerando.

Sobre a doutrina da prosperidade, ainda, há aqueles que argumentam: É, realmente a doutrina da prosperidade é falsa, mas não podemos negar que a Bíblia fala em prosperidade; não podemos ser contra a prosperidade.

É verdade, seria falta de juízo espiritual ser contra a prosperidade dos que amam a Deus, seria como ser contra Deus, pois o próprio Jesus explicitou que é cabível aos que são de Deus prosperar, porém como conseqüência do viver o reino de Deus como prioridade, o que apontei em textos anteriores.

Contudo, há que se observar que neste discurso de que não aprovo a doutrina da prosperidade mas entendo que a prosperidade existe é que mora o perigo.
Esse discurso tende a fortalecer o acomodamento, a evitar o questionamento do que vemos e ouvimos na igreja e faz com que a doutrina da prosperidade esteja mais presente em nossas reuniões do que pensamos. O que começou com alguns respingos há anos atrás, hoje passou de garoa a chuva. Não somos adeptos de tal doutrina, mas muitas de suas práticas fazem parte de nossos cultos hoje; talvez em alguns casos por medo de errar e ir contra "aquilo que é de Deus”.

Continua ...

José Martins

sexta-feira, 1 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte II

Continuação do dia 27 05 07

Hoje o evangelho se tornou, para um grande número de cristãos, apenas um canal para o sucesso na vida, sucesso medido principalmente pelo poder material.
O evangelho que mais se vê, é o evangelho que absorveu a proposta materialista, a proposta competitiva de sermos, como cristãos, os melhores em tudo, oriunda da filosofia positivista, das teorias de mercado (em que o melhor é o que lidera e mais tem). O lema é estar por cabeça e não por calda. Saia da frente que estou passando. Se você não cuidar, tomo a sua posição, tomo o seu status, o seu tudo, absorvo você – não é assim que acontece no mercado comercial, os grandes engolindo os pequenos? Não é essa a mensagem que muitos pregadores estão pregando no lugar onde se vai para buscar descanso para o ser e onde este tipo de pensamento e atitude deveriam ser desconstruídos, com o objetivo de que as pessoas, após ouvir uma palavra do Evangelho, saíssem mais humanas, solidárias, levando para fora algo diferente da batalha individualista, na qual estão envolvidos diariamente?
Nesta proposta toda, a das posses, Deus virou a grande fonte de benesses a egos inchados, instigados por pregadores que mercantilizam as dádivas divinas com fins lucrativos pessoais. Deus é fonte de benesses, mas não creio que o seja se o que temos e vamos ter não passe pelo descansar na sua palavra, no buscai em primeiro lugar o reino dos céus e a sua justiça e as demais coisas serão acrescentadas (Mateus 6.33), sem a afobação de que o que temos é evidência da nossa fé, é a materialização da nossa fé, e sem necessidade de provar algo a alguém.
Buscar o reino de Deus em primeiro lugar virou mensagem de cristão sem “agressividade”, sem convicção das promessas de Deus; o lema é determinar, exigir os direitos, pôr Deus contra a parede porque “Ele não pode negar a si mesmo”.
Há pessoas ansiosas, querendo demonstrar a sua fé e que são de Deus, através daquilo que possuem. Quantos têm se frustrado quando não alcançam o que planejam materialmente, quando não alcançam o que lhes foi dito que alcançariam se crescem.
Se frustraram porque o que professaram não era fé para a vida eterna, mas para o agora abastado. Se frustraram porque talvez o que viveram, o fizeram na esperança material, e não no evangelho que mira o porvir, mas que também não despreza o agora, porque Ele cuida de nós como cuida das aves. Se frustraram porque creram num evangelho que não reflete a dimensão do que foi feito no calvário: Deus vindo a nós e nos libertando da incapacidade de vermos a nós mesmo, de compreendermos a nós mesmo, quem éramos, quem somos, e para onde vamos e porque existimos. Sem a obra de Jesus na cruz não teríamos como enxergar isto, e então, agora dependemos dEle, passamos por Ele para ter o que precisamos, só porque Ele tem cuidado de nós.
Se frustraram porque creram num triunfalismo pregado na aplicação descontextualizada do verso de Paulo: Tudo posso naquele que me fortalece. O contexto em que Paulo usa estas palavras é de saber estar em abundância e saber estar em carência, de saber estar pra baixo e saber estar com todo o ânimo, de saber padecer e saber triunfar. Não é contexto de invencibilidade; não é contexto de sai da frente capeta, porque sou filho do Rei. Os filhos do rei foram chamados a sofrer também, assim como Ele sofreu, a ter e não ter, assim com Ele teve e não teve, porque o amam, porque sabem que Ele lhes devolveu a vida e à vida, porque sabem que Ele se importou e se importa com eles de tal forma que os quer ao seu lado para todo o sempre, porque foram criados à sua imagem e semelhança, são a coroa da criação, são a expressão dEle no pensar, agir, ter história, sonhar, amar, projetar, viver, no livre arbítrio.

Os bens matérias são conseqüência e não fins para o cristão que busca viver segundo o exemplo de Jesus e dos seus discípulos.

Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?

Ainda no texto abaixo

1 Timóteo 6.10-12
10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.
11 Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.
12 Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.

O apóstolo fala que alguns na cobiça pelo dinheiro se desviaram da fé. A cobiça ao dinheiro se manifesta de várias formas e uma delas é pela ênfase e insistência à sua aquisição, que cria à mente dos influenciados uma névoa que os despista da compaixão de Cristo, os torna aguerridos, indiferentes, presunçosos, quase tudo aquilo que Jesus não desejou para aqueles que se chamam pelo seu nome.

No céu, eu só tenho a ti. E, se tenho a ti, que mais poderia querer na terra? Salmo 73:25

Vamos pensar nisto!

José Martins