quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os pirulitos da enchente



Diante das agruras deste mundo, tanta indiferença, desamor e interesse próprio, nos faz bem, às vezes, fechar os olhos e pensar em Deus e refletir o que estamos e como estamos vivendo. Que este ano que termina nos leve a perceber que não somos donos de nada, e o tempo se vai. Por que então não vivermos bem, não olharmos o que e quem está à nossa volta com respeito, afeto? A enchente, aqui, em Santa Catarina nos ensinou coisas, que para alguns, talvez, tenha sido pouco, para outros, uma lição de vida profunda, manifestada no entregar-se um pouco ao próximo. Lembro-me de uma menina no Centro de Eventos da Marejada, Itajaí, que por horas, também como voluntária, ajudou a outros voluntários a preparar cestas básicas para os desabrigados. Num momento de sua ajuda, ela colocava pirulitos nas sacolas, eram em forma de círculo e com faixinhas coloridas. Vinha, colocava quatro, cinco, voltava. Vinha e repetia o ato. O que se passava na cabeça daquela menina de 8, talvez 9 anos? Por certo, ela imaginava pessoas recebendo, abrindo aquelas sacolas e dentre os alimentos encontrando os pirulitos e adoçando um pouco a vida na hora de tanto amargor. Por certo, adultos e crianças passaram por sua cabeça. Parecia um ritual, vinha e como que semeava aqueles pirulitos nas sacolas. Alguém os recebeu. Acho que todos que estavam ali imaginaram alguém, uma criança, desfrutando os pirulitos.
Aquele gesto me ensinou algo, que a gente pode fazer a diferença levando um pouco de doçura aonde não há. Essa doçura nem sempre é uma bala, um pirulito, um chocolate, mas, às vezes, o respeito, a espera sem julgamento, o desejo do melhor aos outros, coisas que parecem estar sumidas da “sacola dos mantimentos” de tantos nestes dias. Que Deus nos abençoe neste Natal e que no ano que chega, nos mantenhamos à sombra do Onipotente.


José Carlos Martins