segunda-feira, 4 de junho de 2007

ELE TEM CUIDADO Parte III

Continuação do texto de 27 05 07

O Velho Testamento é o terreno mais explorado pelos defensores do evangelho da prosperidade porque no Novo, os argumentos ficam mais reduzidos, especialmente nos ensinamentos de Jesus Cristo e nas cartas de Paulo.
Abraão, Jó, José, Ester, Davi, Salomão são os personagens preferidos na apologia de que na Bíblia há um segredo, esquema de se conquistar materialmente o que se deseja.
Todos estes foram pessoas bem sucedidas que demonstram, sem dúvida alguma, e não discordamos disto, que Deus faz prosperar, a final, Ele é o Deus que tudo pode e tudo tem.
Abraão não tinha e passou a ter, Jó sempre teve, José saiu do campo e foi elevado à posição de segundo faraó, Ester do nada foi elevada a rainha, Davi não tinha e passou a ter, Salomão herdou a riqueza do pai e a agigantou.
Agora, os pregadores da prosperidade se esquecem de olhar para a vida de Noé, homem cuja pujança material a Bíblia não menciona; esquecem-se de Moisés que era e muito tinha e deixou de ter para ser; esquecem-se de Samuel que nunca teve grande coisa; esquecem-se de Elias, qual era a riqueza de Elias? Esquecem-se de Daniel que não tinha, passou a ter e deixou de ter; esquecem-se de Jeremias, Ezequiel e tantos outros profetas que pouco tiveram materialmente;e esquecem-se de olhar para o final da lista dos heróis da fé, mencionada na Carta ao Hebreus 11.36-38, que diz:

outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados
(homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Que contradição o que estes versículos revelam ao que tanto se vê hoje, a exacerbada ênfase a riquezas, à melhor casa, ao melhor carro, ao melhor emprego, ao melhor isso ou aquilo, e muito pouca ênfase ao melhor da alma, do coração, da verdade, da justiça para Deus e para aqueles que nos rodeiam, quer sejam crentes ou não.
Como já disse anteriormente, é um tipo de evangelho (não o Evangelho) que tem feito com que um número grande de pessoas se frustre e se afaste quando percebem a falácia na qual foram engodados.
Evangelho que não passa primordialmente e primeiramente pelas necessidades da alma, da compreensão de um mundo tão cheio de adversidades, como o que vivemos, gera pessoas sem reflexão existencial (não conseguem entender a vida), sem percepção interpretativa do que lhes está sendo passado e inculcado. Esse tipo de evangelho cria pessoas que só aplaudem, e quando não o fazem, vem-lhes à mente a falsa percepção de que estão se omitindo em alguma coisa e perderão a benção (especialmente a material). Este comportamento pode ser explicado como sendo o resultado do condicionamento que a falta de reflexão, à luz da Palavra de Deus, sobre o que se ouve e se lê acaba gerando.

Sobre a doutrina da prosperidade, ainda, há aqueles que argumentam: É, realmente a doutrina da prosperidade é falsa, mas não podemos negar que a Bíblia fala em prosperidade; não podemos ser contra a prosperidade.

É verdade, seria falta de juízo espiritual ser contra a prosperidade dos que amam a Deus, seria como ser contra Deus, pois o próprio Jesus explicitou que é cabível aos que são de Deus prosperar, porém como conseqüência do viver o reino de Deus como prioridade, o que apontei em textos anteriores.

Contudo, há que se observar que neste discurso de que não aprovo a doutrina da prosperidade mas entendo que a prosperidade existe é que mora o perigo.
Esse discurso tende a fortalecer o acomodamento, a evitar o questionamento do que vemos e ouvimos na igreja e faz com que a doutrina da prosperidade esteja mais presente em nossas reuniões do que pensamos. O que começou com alguns respingos há anos atrás, hoje passou de garoa a chuva. Não somos adeptos de tal doutrina, mas muitas de suas práticas fazem parte de nossos cultos hoje; talvez em alguns casos por medo de errar e ir contra "aquilo que é de Deus”.

Continua ...

José Martins

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